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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

ETHERION: A subida


A subida

Mesmo diante da onipresente árvore dos Nove Reinos, o mais desconfortante para Lya era o céu: normal demais. Sua cor azul não refletia nenhum oceano que existia naquele plano e a água que banhava a árvore não sofria alterações, não evaporava ou solidificada, então não havia como existir nuvens. A sensação de serenidade que qualquer pessoa teria diante aquele imenso céu lindo não alcançava o coração da garota, tão furiosa quanto fascinada com o espaço azul sobre sua cabeça, que parecia que iria engolir ela se escorregasse do chão.
Lya caminhava em direção ao tronco da árvore, passando por suas raízes que brotavam do chão - todas tortas em ângulos impossíveis - enquanto se mantinha alerta aos galhos, pois suas experiências de vida alertavam que os predadores sempre estariam em cima. Foi necessário subir algumas raízes, passar por baixo de outras. As vezes, formavam-se túneis e plataformas com as vinhas de madeira, forçando a garota saltar com forças que sua dúzia de anos de vida não possuía. Outras vezes, foi necessário cavar suas unhas na estirpe da árvore para poder escalar, demorando horas até subir um metro do chão. "Que merda de mundo eu tenho que escalar as raízes de uma árvore", se remoía nos seus pensamentos toda vez que caía, mas, mesmo sem comida, cansada, furiosa e com seus pés sangrando, não chorava. Não se deixaria perder para uma planta inerte, gigante que fosse.
Depois de dois dias entre raízes, Lya erguia-se sobre uma planície verde extensa, ainda meio quilômetro distante do tronco, mas acima das vinhas que serviam de suporte. Se aproximando, ela avistava um senhor careca retirando ervas que ficavam ao arredor do tronco. Mesmo com o corpo esquelético, ele não parecia realizar esforço quando arrancava aquelas plantas, cujos suportes eram tão resistentes em se desgrudarem da árvore lendária que seria necessário um machado para separar essas parasitas da Yggdrasil. Mas, de longe, era apenas um senhor cuidando de seu jardim. Sentindo a chegada da garota de longos cabelos loiros ondulados, ele virava, mostrando sua arcada dentária incompleta e amarelada em um sorriso honesto. Estava com o rosto barbudo virado para Lya, mas suas pálpebras estavam fechadas.

- Olá, garotinha. Aposto que veio de muito longe até aqui. O que desejas aqui? - poucos conseguiam chegar ao plano onde estavam. Poucos sequer sobreviviam até chegar o tronco. 

Lya andava mais uns passos, até garantir que o que enxergava não era uma ilusão e, então, se curvava para frente e vomitava.

- Oh... Essa é uma resposta nova. 

- Não me vem com essa merda.. - Lya retrucava, limpando a boca com o pulso e seu pulso no vestido encardido. - Não vai me impedir de subir nessa árvore, velho asqueroso.

O velho soltava uma risada que ecoava pelo campo e pelos galhos da árvore. Após alguns segundos, ele se recompõe.

- Você é bastante ranzinza para alguém com sua idade. Muitos como você vem com esta atitude, mas todos tem perguntas para o guardião antes de tentar subir a Yggdrasil. 

- Tá! - cuspia - Vai parar de encher o saco ou vou ter que chutar um traseiro enrugado?

O guardião soltava um suspiro longo, decepcionado. Tantos reis e guerreiros lendários haviam passado por ele, honrado sua responsabilidade com suplícios educados, desafios e motivações heroicas, mas agora, quem passou por todos os obstáculos para alcançar a árvore foi uma criança mal-educada de pés descalços encardida. Para ele, era vergonhoso uma figura tão... boba sequer alcançar as raízes da grandiosa Yggdrasil.

Após alguns segundos de silêncio, ele respondia.

- Não vou ficar no seu caminho. - antes de terminar, Lya já passava por ele - Mas devo saber seu motivo por estar aqui.

Ela parava por alguns segundos, retomando todas as razões, mas no fim, há apenas uma...

- Conhecimento é poder, não é? Então vou pegar todo que existe e ser a mais poderosa que existe. - respondeu sem se virar ao guardião, com os punhos serrados. Repensava em sua missão: "É minha única chance de salvar todos... Com isso, eu..."

- Entendo. Espero que você entenda que sempre há uma troca equivalente, não? - o tom de voz calmo e firme do homem deixou Lya preocupada. Ao se virar para responder a ele, vinhas e galhos da árvore contornavam seu pescoço, trancando sua garganta. - Me pergunto... - o guardião se aproximava, abrindo seus olhos para revelar suas órbitas vazias - O quanto vai lhe custar...

Sem capacidade de gritar, Lya era arrastada pelos galhos, sumindo entre os ramos e folhas da árvore. Fechando as pálpebras novamente, o velho retornava as ervas parasitas no chão, arrancando uma por uma calmamente.

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